Escrevemos desde 22º53'09" de latitude sul e 48º26'42" de longitude oeste, há 235 km da maior cidade do hemisfério sul, é outono. Na contra cartografia das memórias climáticas, reúnem-se aqui: ventos, cirrus, cúmulos e estratocumulos, neblina, orvalho, tapirapé, sementes aladas e aliadas. A atmosfera da jataí, mangangá, flor do cosmos, gravatá e bacupari com a porosidade das rochas que filtram as águas por aqui.
Canto de pássaros, som do movimento, o parque da Marta e a memória do deserto.
Confabular tecnologias de imaginação climática num campo fértil como a Terra Saúva conectou os quintais, varandas, lages e gestos em que se preservam os cultivos contra monoculturais, possibilitando um envolvimento com o ecótono entre os biomas da Mata Atlântica e Cerrado nos sete dias de lua rosa minguante em que entres banhos de floresta, sol e sereno, Terreiro Afetivo partilhou processos de criação com o corpo terra, atmosférico e cósmico de forma situada, por caminhadas sensoriais de avistamento, escuta, experimento e coletas, observações astronômicas entre sol poente, meio da noite, sol nascente e ao longo do dia, desdobrando em desenho, escrita, captação sonora e gestos performados com a paisagem. Um campo para as memórias híbridas, que cruzam o tempo do basalto com o da compostagem, o tempo da noite de outono com o da seiva pelo xilema.
Consideramos algumas plantas parceiras para confabular herbários no ateliê,
uma muvuca com as espécies coletadas na região juntando a milpa de milho, abóbora e feijão + girassol, tecnologias e métodos originários de Abya Yala e Ásia conduzem
as Sementeiras Radicais que atuam como bombas de sementes, aqui imaginadas, esculpidas e ofertadas ao quintal da Terra Saúva - percursos de uma pedagogia dos canteiros.
A imersão reuniu pessoas de diferentes áreas de formação e atuação, geograficamente baseadas entre São Paulo, Campinas, São Manoel, Botucatu e as zonas norte e oeste do Rio de Janeiro, articulando as memórias que seguem.
Alguns autores, pesquisadores, artistas, acervos, aplicativos digitais e itens foram comentados, citados, visitados e/ou utilizados durante o percurso, produções de pensamento que ampliam, complementam e provocam outros pontos de vista sobre a questão climática filosófica e artisticamente; É o caso do “texto baba” de Suely Rolnik enquanto condutor das formas de gerar arquivo proposta para essa imersão. Trechos de Maria Carolina de Jesus em Quarto de Despejos, situando na memória da paisagem paulistana o inverno de 1955 ao verão de 1960 às margens do Rio Tietê, com foco nas observações astronômicas e atmosféricas da escritora; ainda nesse sentido, assistimos ao documentário ‘Cuaracy Ra’angaba: O céu tupi-guaraní’, em torno da pesquisa e prática de Germano Afonso e a astronomia indigena, passamos por análises das pinturas de Eckhout conduzindo além do corpo projetado nas telas de 1634 a 1644 um tipo de herbário inicial que nos leva ao ‘nordeste’ colonial: mandioca, maracujá, cajú, entre outras, bem como demarca as primeiras monoculturas e plantas introduzidas no Brasil, como cana de açucar e bananeira. Passamos por Fukuoka no processo das sementeiras radicais, visitamos o Museu Magma em que fomos apresentades por Dhara à história da paisagem desde uma ampla perspectiva - da formação da via láctea, ao deserto Botucatu, O Aquífero Guarani e as pesquisas atuais que seguem movimentando o espaço e acervo. Entre os apps utilizamos especialmente o stellarium para auxiliar nas observações astronômicas, gravador de áudio para captação sonora e identificadores de plantas entre os demais itens: caneta laser para longa distância, espelhos, papéis, canetas, sementes, barro e terra. Por fim, utilizamos a ‘tempestade de ideias’ como metodologia para pensar especulações e ficções desde Abya Yala.
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caixa de ferramentas:
com RASTROS DE DIÓGENES
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O que queremos confabular e de quais perspectivas?
Quais são as tecnologias para uma imaginação climática?
Quem sou? O que vejo? O que vi? O que busco?
E se pudéssemos responder essas perguntas com as
respostas da paisagem?
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“Em termos das práticas lingüísticas, o ato de confabular (em português, bem entendido) é reconhecido como sinônimo de cavaquear, de conversar familiarmente por passatempo, de trocar idéias. Confabular significaria, ao mesmo tempo, engajar-se numa conversação
cujos temas são, geralmente, suspeitos, escusos, polêmicos, conspiradores ou, de alguma forma, não explicitados. A confabulação é um fato textual que só se constrói na relação com quem a escuta e em relação a quem a escuta. Isso é realmente algo de importante para a compreensão desse fenômeno. Os embates da memória Edwiges Maria Morato e Fernanda Miranda da Cruz, Horizontes, v. 23, n. 1, p. 29-38, jan./jun. 2005
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O que pode ser um texto baba aqui se converte no exercício de confabular com a paisagem situada, envolvendo o grupo e as memória mais que humanas articuladas nesse canto de Botucatu entre as derivas observatórias e sensoriais com o entorno, que passa por caminhadas no sistema agroflorestal, fragmentos de mata, os canteiros espontâneos da Demétria, as viradas de tempo e os tempos cronometrados para uma escrita, desenho, partilha buscando gerar uma escuta e contato com a memória híbrida: edáfica e cósmica, vegetal e mineral, metabólica e climática.
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Já na primeira tarde, caminhamos de encontro à flora que nos cercava, polinizadores, sons de pássaros, da palha que cobria o chão. Com uma caminhada circular ao redor da Terra Saúva e de retorno ao ateliê, seguimos a proposta de iniciar esse arquivo coletivo com uma escrita ou desenho que respondesse às seguintes questões:
Quem sou? O que vejo? O que vi? O que busco? - desse exercício, nascem as notas de chegada conduzidas por flor do cosmos, embaúba e outras.
Nossa segunda caminhada nos levou um pouco mais adiante no território, numa proposta de elegermos plantas parceiras como condutoras das atividades que viriam. Ao longo da caminhada novas espécies se apresentam e os textos ganham dimensões outras, conduzidos por novas perguntas que neste caso seguimos respondendo como paisagem.
com esse exercício, temos as notas para um herbário contracolonial desde a Terra Saúva.
O que diz a paisagem além das nossas tentativas de tradução?
Para além de uma escrita/desenho, demos continuidade traçando poéticas atmosféricas
a partir da escuta, da captação e novamente escuta do contexto sonoro.
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Texto: ‘Por um estado de arte
a atualidade de Lygia Clark’ 1994. por Suely Rolnik
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Sou peregum Contregum De corpo fechado Vi as ervas, folhas e a mata Disparando memórias Na mordida do percevejo No espiral do formigueiro Cheiro no maracujá do mato, Dendê e macela Buscando futuros de mudança Esperanço firmeza
Dharoli
Falso-louro ( cordia alliodora). Já fui verde e presa à um galho. Hoje sou outono, dourada e há furos do tempo em minha estrutura. Há quem diga que estou seca. Uma folha seca ...
Eles passaram por mim enquanto eu descansava sobre as palhas, eles deixaram seus rastros ao meu redor. A sabedoria de dias com céu azul e o que dizem as nuvens com essas formas, umidade, fotossíntese, revoar diversos de pássaros, a temperatura reagindo pelo meu corpo. Busco emanar as ondas de energia que armazeno para teus símbolos , que a terra prospere.
Dani Porto
Guapuruvu Sou grande e tenho uma copa larga que faz muita sombra. Cresço rápido e por isso meu tronco é frágil, preciso estar sempre apoiada em outras árvores para não cair com as tempestades. Minhas folhas são pequenas e caem girando pelo ar, minhas sementes voam longe. Vejo o céu e as nuvens, e a copa de outras árvores. Quando olho para os lados é um mar verde - colorido. Na época das flores olho pra baixo e vejo o chão com um tapete amarelo. Vi os pássaros que vieram se abrigar nos meus galhos, formigas subindo e descendo, vi pessoas dormirem na minha sombra. Vi chuvas, tempestades, dias de muito sol, vi a seca. Vi minhas irmãs morrerem. Busco sempre o sol, vou pra cima o máximo que posso. Busco uma vida longa, me apoiando em meu entorno. Espero poder ser sombra para que um dia as sementes que joguei brotem e tomem o meu lugar.
Luciana Bertarelli
Dracena Pau’dagua Peregum Meu destino é ser folha Subo incerta em direção ao céu Folhas espaldas Já vi se banhar, decorar e também sacudir. Hoje vejo vocês andarem por aí e aqui.Dracena Pau’dagua Peregum Busco viver tranquila Me buscam para dores e inflamações Limpeza espiritual, equilíbrio banho(a) Coqueiro de vênus Fiteira Lirio-palma
Codilone Já vi outras saúvas Hoje vi e vejo vocês. Certamente em breve, verei outras.
Felipe Salles
1 Não sou indivíduo - sou interação - sou reflexo - sou processo - somos
2 Antes sentimos do que vemos - transformação - pulsão - vibração - presença - movimento
3 Nosso passado é resistência
4 Honremos o conjunto de potências de cada corpo, o direito a metamorfose
Augustx
Em constante transformação Porosa com o ambiente e seus seres Sentindo com os olhos da nuca Que enxergam as camadas internas Buscando re\ori\entaçao Nos sussurros dos segredos do mistério Verde
Tainá
Sua cor arroxeada transpassa a lembrança daquela caminhada A boca tingida e avermelhada nos lembra da pausa e das risadas Parávamos para contar histórias, descansar na sua sombra e saborear o seu fruto Memórias de uma lembrança que me desnudo
Thiemi - Ca0s
Sou aquela flor vermelha. Cuidado com ela! Sou aquela que some na paisagem em meio às árvores frondosas. Ela não quer sumir, ela quer reagir a pouca luz que bate nela. Vejo os tons verdes à minha constituição. Mas não sou eu, sou uma pequena flor vermelha. Folhas verdes escuras em formato de coração que o vento leva e traz. Curso meu destino desde a raiz, subindo com galhos finos, folhas para florescer. Vi que todas ao meu redor, assim como eu, num mesmo período, desenvolveram-se e engrossaram seus caules. Vi que não fui abafada por desprezo. Vi que faz parte da minha natureza, ser a “flor vermelha” a desabrochar. Na busca, sem rítmica, a minha espécie nativa pouco conhecida, catalogada, faço parte do todo dessa terra, dessa força. Busco proteção, sou a proteção, sou solução, sou polinização. Estou aqui no caminho…a pequena “flor vermelha”.
Nazaré
Sou como a embaúba. Indiscreta, alto e longínqua. Brilho com as suas folhas e reflito a luz do sol que há em mim. Vejo a terra, mesmo em seu terreno mais árido a possibilidade de água. Eu sinto fluir como em meus sentimentos e a capto do mais profundo lençol. Vivencio e assisto a tragédias, desmatamento por todo meu lar mas ainda assim, sirvo de referência pros que tem sede e coragem de acreditar em mim. Onde estou há água e água são sentimentos. Busco a vida e em mesmo solo de difícil acesso sou a fonte dos que esperam e respeitam o poder que há em mim.
Mayara
Sou vibrante, abundante e frágil. Vejo ao meu redor, meu mundo, minha casa. Os meus estão sempre aqui eu posso ver por algumas semanas As lindas borboletas e abelhas, contribuo com gentileza seus processos. Tenho grande missão, sou flor do cosmos! Estou aqui para garantir a continuidade da minha espécie, busco solo fértil e abundante, mas este é meu fim. Na minha jornada busco ser alimento, cura, conforto e beleza para uma tarde ensolarada.
Carol
A proposta de um herbário anti ou contra colonial nasce como um exercício especulativo
de tramar com as espécies vegetais vivas e situadas suas rotas históricas, geográficas
e performativas que visa integrar ao conceito de herbário a noção de ancestralidade presente nos cultivos e que ocorre especialmente a partir das caminhadas afetivas, derivas poéticas de contato e aproximação com as espécies que formam parte do espaço habitado.
Se origina desde espécies originárias e diaspóricas e se debruça sobre seus nomes originários e vínculos com a memória humana.
É parte das pedagogias dos canteiros, interessada em micro ações ecológicas cotidianas que buscam resgatar um gesto afetivo de performar herbários e reflorestar paisagens.
A presença dos canteiros e fragmentos de floresta ao redor da Terra Sáuva orientou parte da imersão, nos conduzindo por espécies variadas, oriundas de Abya Yala e África.
Entre os biomas brasileiros: plantas do cerrado, atlânticas e amazônicas.
Nos canteiros encontramos uma fonte primária de contatos, trocas e manejos, além das relações medicinais, alimentares e de proteção. Nos propiciam ainda a percepção sazonal da terra e conexões sólidas para conhecer como o ambiente natural se manifesta em conjunto com uma densa urbanidade ou ruralidade monocultural.
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Pedagogias dos Canteiros - para decomposições anti monoculturais da paisagem viva, 2022 - Terreiro Afetivo
Série fotográfica ‘sem título’, 2025 por Augustx e Maré
Embaúba
Me escondo e me misturo, deixando rastros pelo chão
você se encanta por minhas folhas
a cor que vibra na luz do sol
a forma retorcida e seca
parecem aranhas, parece que se movem
cada folha seca assume uma forma única, todas iguais, todas diferentes
nos unimos para contar histórias de vida e de morte
corpo vivo e expansivo ou corpo seco e retorcido?
o chacoalhar da coleta, um corpo que faz som
seremos comida de preguiça
pisoteados pelo caminhar
arranjo de mesa
desenho
Luciana Bertarelli
Na terra das saúvas existe um ponto de fricção, de confluência. Desejos de sobrepor o áspero, no pêlo que arde ao toque, o verso do bamboo liso a grimpa que espeta- arranha.
Tudo gruda, arranha e criamos grafismo sobre o surton,
de nossos tons terrosos.
Comemos e escrevemos.
Dani Porto
Gravatá
Eu tô logo alí oh! Não
Eu tô logo aqui
Em ponto pós frutificação
Carnuda, exuberante, gostosa, dona Gravatá.
Tal qual bacupari, decisivamente nessa temporada o amarelo reinou, tanto em cima quanto em baixo.
Contamos histórias de frutas que variam de nome.
Gravatá
Gragoatá
Caraguatá
Caroá
Kaa’ra Kua’tã
Bacurí
Bacupari
Bacoporé
Abiu do mato?
Quem deu nome às espécies? Quem deu gênero as plantas!!!! Nunca chupou um BACUPARI.
Felipe
Me encontro nos meios, nos rastros, nos olhares, na oralidade, nos encontros e nos desencontros. Estou acima e abaixo dos olhares e das árvores, sou uma e ao mesmo tempo várias. Me conecto com os olhares que se atrevem a me olharem , os aromas, o acalento que me permeiam rodeiam as mãos e os ventos que me semeiam. Através das raízes me ergo cada vez mais forte, com as luzes que me iluminam a água que me refresca, a terra que me sustenta e as redes que me cercam nutrindo por dentro.
Ouvimos, registramos, falamos e gritamos com cada evento e movimento, somos calmas mas também podemos não ser. Abrigamos vida, somos alimentos e também somos cura. Nosso futuro é ancestral, resiste nas memórias orais, faladas e lembradas, sobrevivemos nos espaços que ainda nos permite re-existirmos , cocriamos e habitamos com outras espécies e famílias nos fazem permanecer vivas e construímos tudo isso em conjunto.
Thiemi- Ca0s
Me encontro pronta pra ser chupadae apreciada por sua lingua. Doce e levemente ácida como o fruto do Bacuri. Minha lascívia se conecta com a pata-de-vaca com suas folhas de pares que lembram muito bem pernas abertas.
Conto uma estória de desejo e ficção que transpassa o corpo humano para o corpo vegetal. Carrego e esplendor da araucária e seu mistério de permanência . Meu Futuro consiste , apesar de tudo, em permanecer.
Mayara
[cariúva]
me encontro em terras outras que não carregam meu nome
em olhos que ainda me desconhecem
em bocas que ainda não me nomeiam
me espremo em copa, me ergo hora cone, hora cálice
presença de quando África e América eram um lugar só
marco de outras eras, outras gentes, outras terras
em memórias híbridas, sigo espalhando inquices
e contando histórias de bicho-planta-gente
sou cultivo originário, fruto dispersado
para os donos e donas da terra, fruto vingado
herança colhida, desprendida, bonita
dharoli
Os caminhos para uma sementeira radical perpassam três tecnologias desenvolvidas entre Abya Yala, África e Ásia, considerando temporalidades e gestos diversos e nosso contexto hoje. Essas tecnologias que não são uma grande novidade se repetem como uma coreografia de transmutação entre corpo gente, vegetal e mineral como insistência de permanência da memória ancestral - híbrida.
Para fazer uma sementeira, utilizamos sementes, terra, barro e água.
Iniciamos com a coleta de sementes locais, utilizando como base a Milpa, um método de cultivo cuja base são as culturas de milho, feijão e abóbora. Além da base de milpa, outras sementes ou raízes podem ser consorciadas como o girassol, a batata ou aipim.
Com as sementes reunidas, separamos algumas para o exterior da sementeira e as demais utilizamos para uma muvuca: usando terra preta, palha, folha secas, em alguns casos areia.
Reunimos as sementes com essa mistura e com ela inserimos aos poucos o barro, como num processo de bombas de sementes.
Aos poucos integrando a muvuca na argila, iniciamos o processo de esculpir a forma que se quer a sementeira, finalizamos inserindo as sementes em seu exterior.
Ofertadas a terra, o clima da paisagem e os polinizadores locais farão o trabalho de germinar as sementes lançadas. Essa proposta deve ser mediada e as sementeiras depositadas em áreas previamente autorizadas. Em contexto urbanos podem ser aplicadas em terrenos baldios, canteiros coletivos, zonas de recuperação ambiental.
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Ativações ao longo da semana:
Observação astronômica a olho nú no dia 21/04 desde o pôr do sol entre 17:45 e 19h.
Identificamos no meio do céu Spica, depois Júpiter e órion que seguiam para oeste, aos poucos com o céu escurecendo presenciamos as demais luzes que ascenderam.
Observação astronômica a olho nú no dia 22/04 entre 21h e 0:30h durante o pico das lirídeas, chuva de meteoros. a leste escorpião conduzindo a linha zodiacal e ao lado apareciam centauros, cruzeiro do sul, tapirapé. Conseguimos ver alguns meteoros.
Observação astronômica a olho nú no dia 23/04 entre 5:30h e 7h, desde o nascer do sol;
Estavam visíveis próximos a Lua que abria o dia para o sol saturno e vênus antecedendo a conjunção do dia 25 de abril.
As observações foram feitas quase sempre do pátio em frente ao ateliê, utilizando esteiras de palha, espelhos e laser astronômico de longo alcance, aproveitando a lua que minguava.
Os dias que seguiram após os três primeiros foram de chuva ou nublados.
Ao longo da semana também observamos as diversas nuvens que pairavam e seguiam;
a neblina e o sereno se apresentaram permitindo outras sensações além da observação.
Não utilizamos demarcadores para os ventos, julgando pelas nuvens corriam por todas as direções.
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Proposta:
Colher os pontos cardeais e buscar demarcá-los para facilitar o mapeio celeste.
Eleger um espaço com abertura para o céu, janelas, lages, varandas, etc.
Estipular períodos e horários para observações.
Utilize espelhos para trazer o céu pra terra.
Plantas heliotrópicas e totens podem ser utilizados para acompanhar o Sol.
Cata ventos, pêndulos ou similares, para acompanhar os ventos.
Tecido para colher o sereno.
A ativação pode ser diurna (nuvens, umidade, ventos), noturna: estrelas, planetas,
fenômenos astrológicos, fases lunares - nuvens, umidade, ventos).
Constele palavras e sensações ao longo da observação.
Colhendo os pontos cardeais desde o Outono: leste está demarcado pelo ‘totem’ da artista João Abniel, oeste pode ser demarcado pelo dendezeiro nos limites da agrofloresta, assim como o norte pode ser demarcado pela obra de AnaV. "Três Oferendas ao Tempo y Território”’, também na agrofloresta. O sul pode ser conduzido pela amoreira na entrada da Terra Saúva.
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Também há uma captação sonora com cerca de 10 minutos em que é possível acompanhar a diversidade de vozes que despertavam para o dia. (aves e insetos)
Como tecer continuidades multiespécies desde nossos quintais, varandas, lajes, jardins, canteiros? Iniciar a imersão escrevendo como uma embaúba, flor do cosmos ou flor vermelha nos trouxe até aqui.
O campo da ficção científica está aberto às figuras mais que humanas como protagonistas, contadoras de histórias ou personagens dotados de saberes, traduzidos como uma forma de reconfigurar as coreografias de poder em torno das narrativas assim como tangenciar uma atenção para a diversidade de seres e experiências existentes e fabulados.
A categoria ‘alienígena’ por exemplo, aqui pode ser pensada no contexto da soja transgênica em que o cultivo soa “extraterrestre”, não estando alinhado a um ciclo sazonal ou mesmo vinculado às práticas agrárias originárias ou tradicionais, nesse caso, substituídas por métodos alienatórios do trato com a terra e já não se trata da Soja, planta originária da ásia e toda sua potência e sim de uma ‘roundup ready’, uma monocultura
de uma versão que tolera o glifosato - o tipo de sistema que nos afasta da terra.
Em nosso caso, estamos menos interessades em pensar tais categorias e mais instigadas nas composições e camadas das nossas ficções políticas pessoais e coletivas como continuidade do que já vínhamos tecendo.
O que vem a sua cabeça quando pensa em ficção científica?
Quais os legados essa imagem que vem, deixa para terra?
Quais tecnologias envolvem esse legado e essa imaginação?
Quais os fantasmas coloniais em torno dessas imaginações, legados e tecnologias?
Quais ficções políticas você busca envolver?
A partir dos seus desejos e processos pessoais, cada participante foi propositor de micro imersões, gestos e palavras abertas ao grupo, confluindo para uma pequena mostra
de performances em diálogo com a paisagem, com a Terra Saúva e as variadas leituras
e vivências de mundo presentes alí.
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A rodada de referências passou pelo mito da ‘Ya te veo’, a ficção ‘Procura-se Babosa gigante para um babado fuerte’, ‘atlas de imaginação climática’ e o projeto ‘The Moon Goose Analogue de Agnes Meyer-Brandis’ também foram disponibilizados textos de ficção científica produzidos desde Abya Yala.
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Thiemi
Taina
Nazare
Mayara
Luciana
Felipe
Dani
Augustx
Para alimentar a ancestralidade há uma série de possibilidades,
tramar com as raízes, com os grãos e os processos de tempo e digestão são parte do cardápio.
As receitas deste caderno perpassam as encruzilhadas das tradições de matriz africana no contexto do sudeste brasileiro e o cultivo originário alinhado às fases lunares, imaginando um metabolismo cósmico entre o sistema sol, terra e lua e as relações vegetais e humanas.
Comemos feijoada no dia 23 de abril e propomos comer raízes com a lua minguante.
Comer raízes com a lua minguante
Degustar o cosmos
Metabolizar lunações
Numa lua minguante reúna as raízes e tubérculos:
macaxeira, inhame e batata por exemplo…
Descasque e cozinhe em fogo médio cada uma delas
temperando ao longo do tempo.
Após o cozimento completo de todas reúna num mesmo recipiente e misture.
Está pronto para o consumo.
para nutrir a ancestralidade terrosa, cru que sobra composta
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Receita adaptada de “Para a Terra, memória, ancestralidade e Via-Láctea” rastros de diógenes,
pág 62 (caderno de receitas de artista) 2024.
‘notas edáficas’, Para decomposições anti monoculturais da paisagem viva - Terreiro Afetivo, 2022
Receita de Mayara Velozo:
Feijão de molho 24 horas, trocando as águas
ingredientes:
carne seca 1 kg
Linguiça paio 4 unidades
Bacon 400 g
Duas cabeças de alho picadas
Folhas de louro
Azeite de oliva e azeite de dendê
Fritar as carnes antes e depois juntar ao alho picado
Coloca o feijão pra escorrer e depois na panela de pressão
Reunir feijão, carnes e temperos, mexer um pouco
Colocar 4 dedos de água acima do feijão
deixar 40 min no fogo médio e tá pronto.
Na cozinha:
Mayara
Felipe
Tainá
ajudantes
Luciana
thiemi
Valem
Para ornar com o prato:
Espadas de Ogum
decoravam a mesa.
Bônus: Farofa de Banana
por Tatu.
Notas: A feijoada é um costume no dia 23 de Abril em muitos lugares do sudeste por ser prato de celebração típico no dia de Ogum (São Jorge) tanto nas casas como nos terreiros é dia de Feijoada.